terça-feira


conheço muito bem o rosto com que pernoitas a frémita madrugada. os lugares estratégicos para fugir ao medo. as povoações cobertas de vivos e mortos. o caos. ainda sou do tempo em que os homens te confundiam com uma calêndula plantada na têmpora do mundo. estática, gemias enquanto tentavam arrancar-te da terra abandonada pelo teu deus. ao longe, enquanto  os sinos dobravam numa espécie de anunciação, o sangue espalhava-se no interior  do solo como uma preocupação atormentada. ao teu redor, já não restava nada, para além de uma serpente que rastejava para se emaranhar no teu caule.

Luís-Carlos Mendes