diziam que a mulher lavava os cabelos nas águas pálidas dos rios, enquanto os homens contavam
histórias do quotidiano nas suas margens. é verdade. quando a tarde começou a
deslizar, fiquei a saber que por ali passavam barquinhos de papel e
preciosíssimos sinais que erravam por torrentes semelhantes. de repente, o céu
ficou plúmbeo e dele começaram a chover peixes de todas as cores. as árvores
começaram a ganhar folhagem. os pássaros entoavam cânticos ao som de harpas. eu
vi. havia o cheiro da infância por todo o lado, e os homens começaram a dançar
enquanto o amor secava o rio. uma catarse? não sei. mas sei que foi o essencial
para que eu não ficasse indiferente àquele surto de afectos.
Luís-Carlos Mendes