quarta-feira

talvez seja mais fácil esquecermos os sítios onde confluem os turbulentos rios e partirmos para um qualquer país estrangeiro. aqui, ainda habitam homens esquecidos por um deus que se extingue sem deixar rasto. é uma terra que serve de pretexto às cinzas, à diligência da morte que desconheço. aqui, não se escrevem poemas sobre o amor porque as palavras são já cadáveres desprendidos de tais actos. trata-se da minha dificuldade em aqui permanecer, sabes? estou na idade da experiência e algo me diz que a vida terá de seguir o seu curso para dar voz à minha existência. eu sei que não posso estar numa posição contrária ao óbvio, correndo riscos de destruir, agora, a minha força vital. porque é de força que se trata. é deste modo que se mantém as ligações sem precisar de um deus, ou de vários, se quisermos ir por um caminho mitologicamente saturado. lembra-te que não podes impor limites à tua vida, nem tampouco consentir que haja a mais ínfima possibilidade de imperfeição.


Luís-Carlos Mendes