talvez seja mais fácil
esquecermos os sítios onde confluem os turbulentos rios e partirmos para um
qualquer país estrangeiro. aqui, ainda habitam homens esquecidos por um deus
que se extingue sem deixar rasto. é uma terra que serve de pretexto às cinzas,
à diligência da morte que desconheço. aqui, não se escrevem poemas sobre o amor
porque as palavras são já cadáveres desprendidos de tais actos. trata-se da
minha dificuldade em aqui permanecer, sabes? estou na idade da experiência e
algo me diz que a vida terá de seguir o seu curso para dar voz à minha
existência. eu sei que não posso estar numa posição contrária ao óbvio,
correndo riscos de destruir, agora, a minha força vital. porque é de força que
se trata. é deste modo que se mantém as ligações sem precisar de um deus, ou de
vários, se quisermos ir por um caminho mitologicamente saturado. lembra-te que
não podes impor limites à tua vida, nem tampouco consentir que haja a mais
ínfima possibilidade de imperfeição.
Luís-Carlos Mendes